História do Rock Baiano – Slavery

História do Rock Baiano – Slavery

Lá no início da década de 1990, quando o underground soteropolitano já era sacudido por bandas emblemáticas de heavy metal como a Zona Abissal, Headhunter D.C. e Mystifier, surgia na cidade de Salvador uma nova banda que iria abalar ainda mais a cena. Essa banda se chamava SLAVERY.

Com claras influências de bandas como Morbid Angel e Deicide, a SLAVERY apresentava uma sonoridade que pode ser caracterizada como um Death Metal técnico e veloz, alternando riffs rápidos e trabalhados com solos melódicos e bem elaborados. A SLAVERY se destacou rapidamente como uma das bandas mais promissoras do cenário baiano e, por conta disso, formou rapidamente um grande público e seus shows estavam sempre lotados, em especial os vários realizados no Clube de Engenharia, na Avenida Carlos Gomes, em parceria com outro ícone do underground soteropolitano, a banda de doom metal The Cross.

Liderada pelo vocalista e guitarrista virtuose David Santana, que antes dos quinze anos já havia composto peças eruditas para violão, valsas, prelúdios e sonatas para piano, a SLAVERY contava no seu line-up com o baterista Lyo Hollf, com Fábio no baixo e com o guitarrista base Cristhiano Silva (substituído posteriormente por Mercyo Hussein). Com essa formação a banda gravou em 1992 seu primeiro álbum de estúdio em vinil, o LP intitulado To Kill in Cold Blood. O disco saiu pelo selo baiano Bazar Musical Records, que era uma clássica loja localizada no histórico edifício Orixás Center, no centro de Salvador, e vendia discos e camisas de rock, punk e metal, mas acabou fechando suas portas após o falecimento precoce do seu proprietário em um acidente de moto. 
Esse primeiro disco, apesar da qualidade técnica da gravação não ter sido das melhores (o que era muito comum na época), foi muito bem recebido não só na cena baiana, mas projetou a SLAVERY no cenário do heavy metal nacional. As excelentes composições e arranjos das músicas, a exemplo de Torment in the Hell e World of Tears, que demonstravam uma qualidade técnica acima da média para as bandas brasileiras de metal extremo daquele período, chamaram a atenção das principais gravadoras do gênero no sudeste do país.

Não demorou muito e já no ano de 1994 a SLAVERY lançou seu segundo álbum intitulado Immortal Dismalness, dessa vez pela principal gravadora da época, a mineira Cogumelo Records, que foi responsável pelo lançamento de bandas como Sepultura, Sarcófago, Overdose, Chakal, entre muitas outras. Com a regravação de World of Tears do primeiro álbum e outras excelentes composições, como Heartless by Face e The Last Days, esse disco teve imensa repercussão e chegou a ser distribuído em 18 países. A banda fez várias apresentações de divulgação desse álbum em casas de show como o clube Cruz Vermelha, na Praça do Campo Grande, e também no famoso Palco do Rock, mas infelizmente se dissolveu logo em seguida, deixando um vazio entre os fãs e uma dúvida sobre até onde essa grande banda poderia ter chegado.
Não são conhecidos registros de apresentações da banda ao vivo, nem em áudio e nem em vídeo, restando apenas a memória dos headbangers da época que puderam aproveitar esses momentos de êxtase coletivo. Pelo menos a SLAVERY deixou um legado de grandes músicas em dois álbuns que são tão raros quanto clássicos, merecendo inclusive ser revisitados pelas atuais bandas de death metal que desejam ter boas referências de composições no estilo.

Grigorio Rocha

Grigorio Rocha

Professor de Sociologia, poeta e artista plástico.

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