Entrevista Humberto Gessinger
Humberto Gessinger se apresenta em Salvador no dia 29 de julho de 2018 , lançando o seu mais novo DVD chamado “AO VIVO PRA CARAMBA”. Aproveitando a oportunidade, o BahiaRock entrevistou o cantor, compositor, multi-instrumentista e também escritor gaúcho para saber mais sobre seu atual momento na carreira, sem deixar de lado o seu passado, principalmente no Engenheiros do Hawaii.
Humberto, nos últimos anos você variou bastante o foco do seu trabalho: fez o Pouca Vogal com o Duka, assumiu seu nome na carreira solo, com o Insular, e agora revisita um disco dos Engenheiros… Projeto ou esses trabalhos foram surgindo naturalmente?
Humberto : Foram surgindo naturalmente, mas isso não significa que sejam aleatórios. Há uma linha evolutiva ligando todos eles. Sou um compositor que se expressa através de bandas, geralmente trios, com breves passagens em quarteto e quinteto. Há várias escalas de tempo na vida de um músico. O tempo de um compasso, de uma canção, de um disco, de uma carreira… é uma obra em permanentemente construção. E é bom que não seja uma estrada em linha reta. As curvas deixam tudo mais interessante.
Também nesses últimos trabalhos, sobretudo no Insular, se percebeu uma maior proximidade sua, que vem desde o Simples de Coração, com a música gaúcha… É uma tendência de suas composições agora?
Humberto: É uma faceta presente no meu trabalho desde o início, Longe Demais das Capitais. No inSULar ela esteve mais visível. Mas ela não chega a afetar a maneira como componho, não penso nisso ao escrever as canções. A temática regional pinta de forma natural e misturada com outras influências. Ela se manifesta mais nos arranjos e nos músicos que convido em determinados momentos.
Foram três registros acústicos praticamente na sequência. O que te fez repetir a experiência e até formar um projeto acústico, o Pouca Vogal?
Humberto: No meu trabalho se misturam o compositor, o instrumentista, o cantor, o produtor, o arranjador, o criador de bandas… às vezes uma destas facetas pede mais atenção. Nos projetos acústicos, o instrumentista explorando outras sonoridades toma a frente.
Inclusive, vai haver algum outro registro do Pouca Vogal para breve?
Humberto: Acho que em algum momento, sim. Mas não agora. Estou mergulhado nas composições do disco que lançarei em 2019.
É perceptível que trata sua carreira de forma simbólica, cada disco com um marca e um projeto… Revisitar a Revolta dos Dândis atesta que esse disco foi o mais importante do início da carreira?
Humberto: Cada disco tem seu tipo de importância. Eu não consigo ter a objetividade necessária para compará-los pois, quando se fala dos meus trabalhos, eu estou no centro do furacão, sentindo mais do que racionalizando. O Revolta tem um material muito forte, sem dúvida, basta ver a reação à essa tour 30 anos depois do lançamento. Mas eu acho que escrevo, canto e toco bem melhor agora.
Revisitar os próprios trabalhos do passado não é comum na música brasileira como um todo. Artistas até regravam algumas músicas ou fazem “ao vivos”. Rever e rearranjar um álbum é raro. Acredita que rejuvenesce os registros pras novas gerações?
Humberto: Talvez este seja um saudável efeito colateral, mas, no meu caso não foi o objetivo principal. Às vezes as coisas que ficam datadas numa obra de arte são as mais interessantes.
Como sou fã dos Engenheiros desde 1986, quando ouvi a primeira música, peguei a fase dos milhares de fãs-clubes e muita popularidade da banda. Há um movimento de sua música voltar a ser muito ouvida pelos mais jovens, sobretudo por causa da Internet. A que acha que se deve isso?
Humberto: Essa renovação do público é um mistério. Mas o fato de eu ter feito sucesso como músico também é um mistério para mim. Sempre fui muito tímido e acho meu trabalho muito particular, meio difícil, até… nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que poderia ter feito este caminho. Com o tempo, a gente começa a aceitar os mistérios da vida.
Quem conhece seu trabalho sabe que você tem o costume – há muito tempo – de compor parcerias, principalmente participação de vocalistas em músicas dos Engenheiros. Você acredita que essa experiência melhorou sua forma de compor?
Humberto: Não se trata de melhorar, mas de criar um ambiente diferente. Nas minhas parcerias, tendo a ser mais “correto” e disciplinado. Isso é bom… desde que eu equilibre com as canções que faço sozinho, que tendem a ser mais estranhas.
Ainda falando de composição, você consegue, ainda, ser um dos mais atuantes compositores da música brasileira. Você tem uma rotina para compor?
Humberto: Não tenho rotina. Costumo passar um tempo sem escrever. E há momentos em que faço várias músicas ao mesmo tempo. Nunca quis analisar o processo criativo, gosto de ser surpreendido pelas coisas que pintam. Ao contrário do meu lado produtor e criador de bandas, que é bem disciplinado e mais analítico.
As participações de sua filha em trabalhos seus fez com que uma parceria natural – para compor músicas, por exemplo, – se construísse?
Humberto: Não chegamos a compor juntos, Clara acabou canalizando sua criatividade para outras áreas, como a arquitetura.
Não posso deixar de fazer a pergunta que todo fã quer ouvir e que não quer calar: você tem interesse de voltar com o Engenheiros? Algo “revival” dos discos mais clássicos?
Humberto: No momento não penso em voltar a usar o nome. Mas nunca vou deixar de tocar as canções. Sou muito grato pelo carinho dos fãs, eu também sou fã e sei como é… mas, ao mesmo tempo, às vezes me parece que quem se liga muito aos rótulos tá deixando de ver o essencial.
Você tocou em Salvador em momentos sempre muitos distintos de sua carreira. O que lembra do público daqui?
Humberto: Ah, deve ser o mesmo que um jogador sente ao jogar no Maracanã, né? A Bahia é central na música brasileira, não tem como não sentir esta energia. Especialmente na Concha do TCA!
Foi uma honra compor essa entrevista. Deixe uma mensagem para os fãs do seu trabalho que também são fãs do BahiaRock!
Humberto: Deixo um abraço de companheiro, sei bem o que é ser fã. É a melhor parte! Saber ouvir também é um dom.