Entrevista Rafael Bittencourt (guitarrista do Angra)
O Angra sempre foi uma banda extremamente controversa do cenário nacional, com críticos, mas diversos adoradores. Em Salvador, ostentam o título de ser a banda não-baiana que mais tocou por aqui. Mais uma vez, então, eles desembarcam em terras baianas para divulgação do álbum “OMNI”, em show que ocorrerá no dia 02/12/2018, no Salvador Music Place – Patamares, às 18 horas.
Aproveitando a passagem da banda pela Bahia, o BahiaRock trocou uma idéia com o guitarrista Rafael Bittencourt para saber um pouco mais sobre suas aspirações como músico, sobre como enxerga os fãs e o cenário do heavy metal pelo mundo. Confiram:
Nesse momento de sua carreira, quais são as aspirações que preserva como guitarrista e cantor? O que ainda gostaria de fazer na música?
Bom, minhas aspirações são muitas, gosto de muitos estilos diferentes. Além do heavy metal, gosto do rock progressivo dos anos 1970. Como cantor gosto muito da música dos anos 1950, música romântica, como Elvis Presley e coisas do tipo. Na verdade como músico e artista eu gostaria de escrever outras coisas que não fossem só música. Gostaria de escrever peças de teatro, inclusive tenho algumas idéias para peças e livros infantis, histórias em quadrinhos e coisas do tipo. Gostaria também de trabalhar mais em coisas que sejam multimídia, que combinem música com imagem e que converse com diferentes expressões artísticas.
Os fãs brasileiros se diferenciam dos fãs europeus? Se há diferença, o que pode citar a respeito?
Os fãs brasileiros são completamente diferentes de todos os outros fãs. Primeiro de tudo porque eles têm um sentido de orgulho pelo Angra, um patriotismo envolvido no amor que eles tem pelo Angra e pelas bandas brasileiras. Um patriotismo que fãs franceses ou japoneses, por exemplo, não vão ter. Eu acho que o fã brasileiro tem uma coisa curiosa que ele ama muito o Angra, mas também adora torcer contra, não sei bem o motivo. O fã gosta de assistir a derrota e também se reerguendo, algo bastante curioso. Como se existisse no Angra uma tragédia grega.
Por exemplo, o heavy metal é muito segmentado hoje em dia no mundo inteiro. Então o cara que curte thrash metal não gosta muito de metal melódico, e por aí vai. Mas o fã fora do Brasil não se incomoda com as coisas que ele realmente não gosta. Já aqui no Brasil o cara gosta de atormentar os fãs de outros estilos que ele não gosta, especialmente através da mídias sociais. Isso é uma coisa curiosa, meio espírito de porco, que eu acho que tenha um a ver com o nível cultural. Porque tem muitos países em que o Angra faz muito sucesso, que são de 1º mundo onde o nível cultural é notoriamente mais alto, e isso não acontece. O fã brasileiro é muito apaixonado, mas também às vezes não sabe expressar esse amor, a ponto de parecer que na verdade é o contrário.
Como vê o cenário atual do Heavy Metal no mundo? Muitos jornalistas vêm dizendo que o público não se renovou, por isso diminuiu. Você concorda?
O heavy metal é uma coisa muito sólida no mundo. Temos festivais europeus, de verão, que estão cada vez maiores, batendo recordes de público. Então ele é um estilo que se consolidou no mundo. Mas ele não é mais um estilo mainstream, que não acompanha as modas, um pouco marginalizado. O que é bom, porque na verdade a essência de heavy metal é uma coisa à margem da moda e das tendências. Quando o gênero começou e se popularizou, ele estava à margem. No meio dos anos 1980 pros anos 1990 ele cresceu com muito “glamour”. Mas nos anos 2000 ele voltou para o seu lugar que é à margem das tendências e da moda, mas que tem um público muito fiel e dedicado.
Os jornalistas vêm dizendo que o público não se renovou, né? Olha, em alguns segmentos do heavy metal como o melódico e o power metal até acredito que isso seja verdade. Mas dentro de outros como o death e black metal o público tem crescido. Ou o próprio death metal melódico, que teve um aumento no número de bandas desse segmento. O djent, um estilo novo que é um progressivo super sofisticado, também vem crescendo e conquistando públicos novos. Shows de bandas desse estilo, como o Textures por exemplo, tem uma média de idade de público muito baixa, maioria de 15 e 16 anos. Isso é uma coisa muito boa. Então em alguns segmentos o público vem se renovando, mas não em todos realmente.
Agradecemos imensamente por essa entrevista e pedimos que deixe uma mensagem aos fãs do BahiaRock!
Eu que agradeço a entrevista para o BahiaRock. Bom, a mensagem é a seguinte: eu também tenho que agradecer os fãs da Bahia que vem apoiando o Angra há muitos e muitos anos. Toda a cena rock baiana que é muito rica, não só pelas bandas, mas também pelas casas de show, estúdios, mídias e meios de comunicação que tem sempre mantido o rock vivo no estado, e isso é muito legal. Quero lembrar também que estamos fechando a nossa turnê do Ømni aí em Salvador, sendo que começamos a turnê na cidade no trio elétrico de Carlinhos Brown no carnaval, encerrando passando novamente pela capital baiana. Recebendo a benção do Senhor do Bonfim, de toda a história do rock baiano, com um privilégio de poder fazer esse show para um público tão maravilhoso.
Fotos tiradas do site oficial de Rafael Bittencourt