Cobertura de Show – Angra em Salvador
Mais um show do Angra em Salvador. Desde de 1995, foram inúmeros eventos protagonizados pela banda paulista em terras baianas. Com certeza, foi a banda com penetração internacional – do contexto metal – que mais tocou por aqui. Desta feita, o show marcou o encerramento da bem-sucedida turnê do álbum “Ømni”, atestado pela imprensa especializada como “a volta” do Angra a álbuns de boa qualidade artística.
O local escolhido, o Salvador Music Place, mostrou-se um pouco acanhado para receber inúmeros fãs que lotaram o local. Apesar da evidente mudança do mercado metal, com cada vez menos fãs ativos e partícipes de eventos e consumidores de material, os fãs do Angra são fiéis, também em salvador.
Após a intro, e quase nada de atraso, a banda invade o palco com New Born Me, primeira faixa do antecessor Secret Garden. Essa formação, extremamente diferente das últimas, com músicos com características muito distintas das daqueles que substituíram, mostra entrosamento e pegada logo no início da apresentação. O destaque inicial, claro, vai para Fábio Lione que, pelo que consta, estava fazendo seu show de número 140 (!) no ano, dividindo-se entre Angra e outros trabalhos. Mais uma do Ømni aparece na sequência, Travelers in Time, música que evidencia marcantemente a presença de Lione na banda, de construção vocal indefectível, mas que, também, casa com a presença dos elementos de música brasileira e clássica, característicos deles. Essa canção contrasta também com guitarras muito pesadas e o vocal de Rafael Bittencourt. Excelente faixa!
Para alegrar os fãs, a sequência traz Waiting Silence, do aclamado Temple of Shadows, colocando, definitivamente, o público no show. Plateia essa que marcou sua identidade de fã, cantando as músicas o tempo todo. Em alguns momentos, era difícil ouvir Lione. Na emenda, a banda alcança todas as suas fases, tocando Nothing to Say, do antigo Holy Land, canção que – pra mim – é uma das melhores das fases antigas executadas na voz de Lione. Da fase Matos, tem refrão muito marcado pela construção vocal desse que traz elementos muito identitários do Angra. Nada demais para experiência de Lione. Essa faixa também fixa a qualidade de Bruno Valverde, com sequência marcante na bateria.
Insania, também no Ømni, é tocada a seguir, canção destaque do disco novo, pela bela harmonia de guitarras e um trabalho maravilhoso de baixo de Felipe Andreoli; esse, inclusive, com segurança ao vivo que impressiona. Fica difícil ver o Angra sem ele hoje. Acid Rain e Caveman são as próximas, bem diferentes, mas que funcionaram muito bem tocadas “coladas” no show. Set bem cuidadosamente escolhido para aglutinar uma carreira com muito registros. Trabalho de guitarras muito bem executado, sobretudo pela performance de Marcelo Barbosa, talvez o membro atual com maior responsabilidade: a de substituir Kiko Loureiro. Sorridente e participando bastante do show, Marcelo mostra já estar completamente integrado a banda.
Pausa para um solo de bateria de Bruno, que já tem sua marca no grupo, seguido por Black Widow’s Web – música mais comentada do disco atual, pelas participações – e Upper Levels, essa última, ao meu ver, uma grata surpresa do set, por seu trabalho prog, misturado aos ritmos brasileiros, que agradou muito aos fãs presentes. Spread Your Fire foi a próxima para tocar fogo no lugar. Sem dúvidas, uma das melhores execuções da noite, sobretudo pelo vocal de Lione, imprimindo muita identidade própria a música que já era muito bem quista desde a fase Falaschi. Para encerrar essa terceira parte do show, mais uma do Ømni: Silence Inside. Talvez a canção mais “diferentona” dessa última fase da banda, e cantada também por Rafael, serviu para acalmar os ânimos da música anterior, sem deixar o show descambar para o marasmo. De fato, a apresentação teve foco bem marcante nas canções do último registro do grupo.
Começa a última parte da apresentação, com mais uma do trabalho mais novo, The Bottom of My Soul, canção que parece pertencer ao trabalho solo de Bittencourt, até por conta do vocal que ele mesmo trouxe a música. Eu tenho simpatia pelo vocal dele, apesar dessa canção não parecer muito com uma da banda. Ømni marca uma mudança salutar – ao meu ver – do trabalho do grupo. Esse registro evidencia isso. Temple novamente com Morning Star – mais uma canção com nuances de influências da música brasileira. Talvez com o intuito, sobretudo fora do brasil, marcar essa característica, o set foi muito ligado a canções que tem essas influências. Não à toa, o show teve a participação do percussionista baiano Dedé Reis – da banda de Carlinhos Brown – em diversas faixas. Para fechar o bloco, mais uma do álbum atual: Magic Mirror, também uma que é referência da identidade recente da banda, com vocais marcantes de Lione e uma construção melódica muito desenvolvida nas melodias intrincadas e pesadas, além de vocais também feitos por Rafael.
O final, claro, foi um presente aos fãs. Rebirth, cantada em uníssono, preparou o terreno para o medley de Carry On e Nova Era, com certeza as canções mais emblemáticas da banda em toda carreira. Lione, sem questionamentos, segura as faixas, apesar da criticidade dos fãs do grupo com os agudos do registro mais conhecido do álbum Angels Cry. Final empolgante de um show que entregou o que propôs: uma banda com 25 anos de carreira, muitos hits, fãs em todo o mundo, mesmo com mudanças drásticas na formação nos últimos anos. A banda está viva, renovada, relevante e, sobretudo, oferecendo aos fãs espetáculos, como este de Salvador, que ainda valem muito a pena de serem vistos. A Rock Freeday merece louros para ainda manter essa parceria com a banda, o que garante a presença dos shows do grupo em Salvador. Ao meu ver, apesar do calor e do lugar apertado, mais um evento de sucesso. O cenário precisa.