Cobertura de Show – Viscerall, Tchandala e Reunion X
Uma noite, VISCERALL, para o underground de Aracaju
Na noite chuvosa do sábado, 18 de maio, a princípio silenciosa, Aracaju vivenciou uma celebração do mais puro e autêntico Heavy Metal, surpreendendo aos mais jurássicos dos Metalheads presentes, tamanha a qualidade das bandas e o envolvimento do público, transformando o show no Lado B Studio Pub num verdadeiro espetáculo de Metal intimista. O termo, aparentemente, fora de contexto, mas que traduz, literalmente, o que aconteceu – sem diminuir o volume, o peso e a distorção, principais características do estilo. Arriscaria dizer que foi algo excepcional, até mesmo, para as bandas do cast.
Tchandala
Os trabalhos tiveram início por volta das 22h, com a subida ao palco da banda Tchandala. Na estrada desde 1996, quatro discos lançados – uma das maiores expressões do Heavy Metal no Nordeste e, principalmente, do estado, mostrando competência e uma qualidade indiscutível nas suas canções, claramente refletida na empatia com os headbangers presentes ao iniciarem os primeiros acordes de The Flame, aquecendo o ambiente. Dando sequência com Labyrinth, já sinalizando que os caminhos dessa noite seriam de temperaturas elevadas e, ao riff de One Billion Light’s, a saga dos nordestinos viria à tona, mostrando o quanto é duro sonhar e ter esperanças vivendo no agreste. Porém, em seguida, parte da resposta ao sofrimento desse povo surge com Valley of Greed. Mas, a batalha não parou aí e continuou com Fantastic Darkness, provando que esses caras não se rendem e nem se deslumbram com o show business, mantendo os pés no chão. Segue a cadência com Shadows e Tears of River, clamando pela preservação do meio ambiente e, inexoravelmente, da vida, quando nos surpreendem, positivamente, mais uma vez, com a intrigante Echoes Through the Fourth Dimension na sequência. E, sem deixar decair o ritmo a frente dos presentes, eis que surge a, talvez, mais aclamada pelos fãs, Mirror of Decay, uma pancada conclamando a marcharmos juntos e, bradando pelo politicamente correto, sugerindo nos colocarmos no lugar do outro. Flatland prepara a marretada final – resistindo e superando as dificuldades de fazer Metal no Brasil e, principalmente, no Nordeste. Encerrando sua participação nessa noite com Resilience, que ficará na memória dos camisas pretas de Aracajú. Excelente show dessa pérola nordestina, que ainda não recebeu o seu devido valor e lugar, mais que merecido, ao sol.
Viscerall
Por volta da meia noite, os baianos da Viscerall, atração principal do cast, surgem no palco ao som da sua épica e marcante Intro. Pareciam estar em casa, diante da imediata interação e calorosa receptividade do público presente que, mesmo numa noite nublada e chuvosa, se fez presente no lado B Studio Pub, celebrando a força do Metal nordestino e do Brasil. Na estrada desde 2016, formada pelos experientes Alexandre Humildes (vocal), André Fiscina (Baixo), Davi Carvalho (teclados), Gleuber Machado (guitarrista), Igor Tavares (guitarrista) e Leandro Araújo (bateria), iniciam o set chutando a porta de entrada da cidade de Aracaju, com Death Machine – canção tema do Lyric Vídeo divulgado nas redes sociais em 2018 e bem recepcionado pelo público nacional e até internacional – uma sacudida nos Metalheads mais curiosos na casa. Na sequência, mantendo a temperatura em alta, Keeping the Flame Alive faz um convite aos camisas pretas manterem a cena viva e nossa bandeira, permanentemente hasteada; uma canção com a força do Metal, a maestria da música clássica e melodias marcantes, daquelas que ao dormir sonhamos com elas. O massacre seguiu testando a resistência dos batedores de cabeças, sem tréguas, com a pesada e cadenciada Between the Cross and the Sword, simplesmente uma marretada para impulsionar nosso exército metálico a seguir marchando, sem temer obstáculos e firmes no propósito. Dando seguimento ao setlist, bastante singular eu diria, fomos brindados com um hard/heavy, longe do convencional, Into the Darkness (pelo que pude apurar, uma das favoritas da banda), mostrando que a música pesada não reconhece fronteiras, colocando abaixo qualquer tipo de prisão ou limite, trazendo uma mensagem muito forte sobre as drogas em sua letra, alertando sobre o sofrimento em viver na escuridão; magnífica composição.
A essa altura do show, a banda Viscerall proporciona o momento mais emocionante da noite, surpreendendo aos presentes, faz uma merecida homenagem a Fábio Andrade, ex-proprietário do Lado B Studio Pub – falecido no início deste ano – e também, a sua ex-companheira, que segue à frente da casa, Araceli Rodrigues, executando, de forma particular e mágica, a canção All That I Bleed, da consagrada e lendária banda norte-americana, Savatage. Simplesmente de arrepiar diante da aclamação do público, que interagiu de forma quase solene fazendo desse momento, único.
Retornando ao repertório autoral, a curta Act Seven faz a transição – com uma breve apresentação dos membros da banda – para, a também instrumental, Krusaders, provocando o exército de Headbangers à cerrar fileiras na peleja em nome do Metal, para, logo em seguida colocar os corações à prova, eis que soam os acordes de mais uma surpresa da noite, Metal Heart, tributo ao Accept, destacada e emblemática banda alemã. Mais um momento excepcional do show, quando o golpe final é proferido com Age of Steel, cortante como o aço, chamam os verdadeiros para construir o nosso Império Metálico.
Fica o gostinho de quero mais, anunciando que breve estarão de volta às terras sergipanas, para celebrar o reencontro com os Metalheads do estado, esperando que não demore muito.
Reunion X
Porém, ainda tinha muita celebração pela frente, eis que, próximo às 2h da manhã, sobe ao palco a banda Reunion X (tribute band), anunciando que a noite ainda se prolongaria madrugada adentro, executando grandes clássicos do Metal. O público, por sua vez, cantou junto com a banda uma música atrás da outra e o repertório não decepcionou. Iniciando o tributo com March of Time (Helloween) e na sequência, Edge of Thorns (Savatage), contando com a preciosa participação do tecladista da Viscerall, Davi Carvalho. Seguindo a celebração, eis que os sinos dobraram anunciando For Whom the Bell Tolls (Metallica) e prossegue com The Ripper (Judas Priest), Sabbath Bloody Sabbath e Paranoid (Black Sabbath), Don’t Fear the Night (Omen) e, finalizando em grande estilo o primeiro bloco do setlist, Abigail (King Diamond), levando ao delírio os bangers presentes. Na sequência, tentando dar fôlego ao público, que não arredava o pé do show e iniciando o segundo bloco da apresentação, os caras surpreendem ainda mais, com Children of the Damned (Iron Maiden) e A Tale That Wasn’t Right (Helloween). Colocando mais lenha na fogueira, dando seguimento ao cortejo, com a energia exalando pelos poros e quase que em uníssono, Breaking the Law (Judas Priest) abala a casa mais um vez; o que parecia o fim, mas não havia trégua pra essa noite por parte da Reunion X. Ainda tinha uma sequência matadora em homenagem à maior banda de Heavy Metal da história, Iron Maiden; The Trooper e Aces High decretam o fim, deixando desfalecidos os bravos Metalheads que resistiram até ali.
Os caras executaram com qualidade, competência e respeito às canções originais – fazendo desta noite algo apoteótico e memorável – deixando o palco com um sonoro bis dos presentes.
Parabéns, ao Lado B Studio Pub pela receptividade, qualidade dos equipamentos da casa e a atenção nos bastidores, respeitando os músicos das bandas de forma profissional. Também ao público que compareceu e ficou até o último acorde da noite, sem deixar cair a vibração e o nível do calor humano no ambiente.
Vida longa ao Metal sergipano, nordestino e do Brasil!