Cobertura de Show – Roger Waters – Us + Them Tour

Cobertura de Show – Roger Waters – Us + Them Tour

Emblemático – não se podia esperar de um show de Roger Waters em nossa terrinha. Toda a gigantesca estrutura e pirotécnica da turnê – inclusive um telão super wide de 70 metros – foi devidamente montada na Arena Fonte Nova para que 28.000 pessoas pudessem assistir um espetáculo de música, arte e ativismo.

Com apenas 20 minutos de atraso, o show que faz parte da turnê mundial “US+Them” conseguiu apresentar uma verdadeira jornada por músicas da carreira de Roger, sejam do Pink Floyd, como Money, Breathe, Time, The Great Gig in the Sky (destaque para a excelente dupla de cantoras Jess Wolfe e Holly Laessig) quanto de sua carreira solo, como “Déjà Vú” e “The Last Refugee”.

Um dos pontos altos da noite aconteceu durante a execução do combo “The Happiest Days of Our Lives”, “Another Brick in the Wall Part 2” e “Another Brick in the Wall Part 3”, quando crianças integrantes do Projeto Axé (organização de apoio a crianças carentes de Salvador) adentraram o palco com sacos na cabeça e macacões laranjas de prisioneiros. Enquanto a música era tocada, as crianças apresentaram uma coreografia e em determinado momento livraram-se dos trajes e revelaram uma blusa negra escrito “Resist” (resistir, em inglês).

Neste momento, chorei. Chorei como um desabafo, uma explosão de sentimentos que estavam acorrentados em mim. Toda a revolta, toda a tristeza e decepção eclodiram naquele instante. Um grito, um soco no ar, uma flecha lançada contra tudo que tenho visto. Uma compaixão por cada ser humano que não se apercebe da realidade. E por cima de tudo isso, pensei em minha filha. Uma sensação única de tentar mudar as coisas para que minha filha pudesse ter um mundo justo para poder viver. Um mundo sem ódio. Um mundo onde somos humanos. Um mundo onde a igualdade está em termos respeito ao que nos faz únicos, que são nossas diferenças.

Quando veio o intervalo, após a catarse deixada por este momento, Roger desfilou todo o seu posicionamento a respeito das mazelas da humanidade – frases de ordem contra Marck Zuckerberg, ascensão do neofascismo no mundo, desigualdades, racismo, antissemitismo e todos os – segundo o próprio Waters – “porcos”, especialmente Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.

Memorável, senão o ponto de maior destaque, foi a homenagem a mestre Moa do Katendê, assassinado no domingo das eleições (06 de outubro) por motivos de discordância política com o seu algoz. Ao contrário de outras cidades onde se apresentou, em Salvador Roger se sentiu à vontade para discursar, principalmente alertando ao público que somos todos iguais. “We´re equal”, coroou o artista, após chorar durante a homenagem.

O público respondeu diversa vezes às críticas e posicionamentos políticos efetuados por Waters, gritando em uníssono “ele não”, como rejeição ao candidato à presidência Jair Bolsonaro – coro que permaneceu inclusive após o show, como pudemos presenciar na estação de metrô Campo da Pólvora.

Destaque também para a música “Two Suns In the Sunset”, do álbum floydista “The Final Cut” (1983), que, segundo o próprio Roger, foi executada pela primeira vez ao vivo. Um presente para Salvador, ainda que tenhamos sentido a ausência de “Mother”.

Enfim, este será um daqueles shows que ficará marcado na história e em nossa memória. Roger Waters conseguiu unir rock, espetáculo, contemplação, ativismo, política e conscientização em uma única noite. De uma maneira que somente um cara cuja carreira fala por si poderia fazer. Obrigado Roger.

Show: Roger Waters – Us + Them Tour
Onde: Estádio Fonte Nova – Salvador/BA
Quando: 17/10/2018

Setlist:

Fotos por Marcio Costa e Rames Torres:

Rames Torres

Rames Torres

Diretor de Cultura e Relações Públicas.

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