Cobertura de Show – Paul Di’Anno em Salvador
Por Lucas “Laru”
Impossível começar essa resenha sem antes mencionar o ocorrido no show de Fortaleza, primeiro da turnê brasileira e que antecedera o de Salvador em duas noites. As notícias voam, em especial as más. Pelas bandas de cá não havia quem não soubesse do que tinha se passado na apresentação na capital cearense: problemas no som, falta de entrosamento dos músicos, a saúde debilitada de Paul e a irritação deste com as falhas na execução das canções. A soma de tudo isso acabou por gerar um show que terminou muito antes do esperado, com cerca de apenas oito músicas tocadas e uma enxurrada de críticas. Já havia na internet alguns fãs mais pessimistas afirmando que a turnê não chegaria ao fim. Outras pessoas diziam que diante de tamanha repercussão negativa acabariam desistindo de ver o cantor britânico quando este chegasse em suas cidades.
Todavia, as notícias boas também chegam. Talvez não com a mesma velocidade e impacto das ruins, mas, elas chegam. Felizmente, entre os shows de Fortaleza e o de Salvador, aconteceu o do Recife. E as informações que de lá vinham eram animadoras. A apresentação havia sido bem melhor, as falhas foram poucas e o público saiu satisfeito.
Feitas essas considerações, passemos ao show em terras soteropolitanas. Alguns dias antes, a produção informou por e-mail que o ex-front man do Iron Maiden subiria ao palco às 21:30h, o que de fato só ocorreu uns 20 minutos depois da meia-noite. Um atraso considerável, especialmente por se tratar de uma noite de domingo e a segunda-feira ser dia útil. Ao subir ao palco Di´Anno logo comentou que o lugar era pequeno. Não foi possível saber se se tratava de uma reclamação ou uma mera constatação.
O show teve início com “The ides of March”, tocada em playback no sistema de som da casa, seguida da fantástica “Wrathchild” (tal qual no álbum “Killers”). Esta logicamente já executada ao vivo pela banda e sendo cantada por todos os presentes. Paul a todo tempo se queixava da própria voz, dizendo que a havia perdido e pedindo ao público para ajudá-lo cantando junto com ele. Assim foi feito, especialmente em músicas como “Remember Tomorrow”, “Purgatory”, “Sanctuary”, “Killers” e “Running Free”. Apesar da divulgação ter sido feita afirmando que os dois primeiros discos do Iron Maiden seriam tocados na íntegra, isso não ocorreu. Do primeiro, por exemplo, ficaram de fora “Prowler”, “Strange World” e “Iron Maiden”. Contudo, não pareceu que tais ausências foram desabonadoras da apresentação, até porque o público por diversas vezes gritou o nome de Paul, que, um tanto quanto sem graça, pedia que parasse dizendo não ser merecedor de tal ovação. O que só demonstra a pessoa simples que ele parece ser. Não se pode esquecer que estávamos de frente com uma figura lendária da música pesada mundial, o vocalista dos dois primeiros álbuns daquela que é apontada por muitos como a maior banda da história do Metal. Definitivamente, Di´Anno tem seus méritos e merece todo o reconhecimento por isso.
As falhas na apresentação em Salvador foram poucas, sendo a única mais explícita a ocorrida durante “Murders in the Rue Morgue” que precisou ser interrompida no meio, mas, que com um minuto ou dois foi prontamente retomada. Talvez possa soar audacioso o que será dito (até porque não o conheço pessoalmente), mas, Paul, apesar de todos os problemas, parecia bem feliz durante sua performance.
Voltando à produção do show, durante a venda dos ingressos foi divulgado que os primeiros a comprar teriam direito a tirar uma foto em grupo com Di´anno. Tal não ocorreu. Talvez em virtude de Salvador ter sido o último show de uma sequência de três e de todo o cansaço e problemas enfrentados pelo artista. Compreensível.
Ao final, parece que o saldo foi positivo e que os presentes não se arrependeram de ter comparecido. Desnecessário dizer que o show foi recheado de clássicos, até porque é tarefa árdua encontrar uma música ruim nos dois primeiros discos da Donzela.
Nesta parte pede-se escusas ao leitor porque o texto deixará de lado os aspectos meramente musicais/artísticos para mencionar o grande ponto negativo da noite: o comportamento autodestrutivo de Paul Di´anno.
É sabido que sua saúde anda debilitada, que ele já não anda há alguns anos e que faz uso de uma cadeira de rodas para se locomover. Também é de conhecimento de todos que o cantor inglês passou recentemente por uma cirurgia nas pernas, para a qual inclusive diversos fãs de diferentes partes do planeta se mobilizaram e criaram uma campanha para arrecadar fundos e assim possibilitar que Paul fosse submetido ao indispensável procedimento médico. Não obstante, parece que nada disso comoveu o ex-Iron Maiden. Paul bebeu bastante durante o show e se aproveitou das duas músicas instrumentais do seu set (“Genghis Khan” e “Transylvania”) para fumar cigarros. Além da negligência com seu próprio corpo e principalmente com seu instrumento de trabalho, a voz, um desrespeito com aqueles que o ajudaram e ainda buscam fazê-lo, para se dizer o mínimo. É como diz um personagem daquele famoso filme brasileiro: “Você tem que me ajudar a te ajudar”.
No mais, fica o desejo de que Paul repense suas atitudes, até porque já não é aquele garoto dos primeiros anos de Iron Maiden, e a esperança de que recupere sua saúde. Que Salvador possa vê-lo em breve novamente. Up the irons!
Queria ter ido, não fui por morar 600km de Salvador e frustrado com o que ocorreu com U.D.O ano passado. Esperava a mesma coisa do Paul e AMÉM, teve show, isso que importa. Quanto mais lendas do rock se apresentado por aqui melhor, o cenário, independe da fase de grandes nomes merece recebe-los para possibilitar mais shows lá na frente.