Cobertura de Show – NÃO TEM BANDA COM MINA
Data do Evento: 23/11/2025
Local: Green House – Rio Vermelho – Salvador – BA
Na noite de 23/11, a Green House abriu as portas para o “mini festival” criado pela banda paulista The Mönic: “Não tem banda com mina”. De nome irônico, o projeto serve como uma resposta à falta de espaço para as bandas de mulheres nos festivais de música do país. Encabeçada pela própria The Mönic (a própria sendo uma banda 100% feminina), a edição soteropolitana do evento contou com a também paulista Charlotte Matou um Cara, e com a cantora baiana Jany, que abriu o evento – e mesmo antes de os shows começarem, o som mecânico estava em sintonia com o evento: músicas de bandas de mulheres como Time bomb girls, Far from alaska, INKY, To Define, entre outras, era só o que saía das caixas de som.
A banda de Jany era a única com homens (o baixista e o guitarrista), mas o girl power prevaleceu desde a primeira música. Com repertório calcado em músicas de cantoras brasileiras (como Rita Lee, Pitty e Cássia Eller), a baiana esbanjou voz, atitude e presença de palco (e também saindo dele pra se juntar ao público em vários momentos). Destaque para as versões rock ‘n roll de “Como nossos pais” (canção eternizada na voz de Elis Regina) e “You know I’m no good” (Amy Winehouse). Ainda teve espaço para algumas músicas autorais (“Ficou perdido”, “Sair de mim” e “Veneno”).
Em seguida, tivemos a grande catarse punk rock/hardcore com a Charlotte Matou um Cara. De temática abertamente feminista, progressista e antifascista, as 4 mulheres atropelam tudo pela frente quando começam a tocar – e bem num momento propício, um dia após a aguardada prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Rodas punk e gente pulando o tempo todo, como não se vê mais tanto nos shows de rock de Salvador. Destaque para o manifesto anti-PM, “Tiro, porrada e bomba”, a crítica certeira aos machos escrotos da cena, “punk mascuzinho”, e para a versão “charlotiana” de “Festa Punk” (Replicantes), só com nomes de bandas femininas.
Encerrando a noite, a The Mönic! O trocadilho do nome da banda (feminino, mas “demoníaco?”) é justificado em suas músicas: contraste entre vocais melódicos e gritados, entre melodias pop e peso quase “metálico” em alguns momentos. Com gritos ou sem gritos, elas colecionam refrões grudentos e bons de cantar junto (“TDA”, “Bateu” e “Simplifica”), mas também tem seus momentos de crítica agressiva, tanto na letra quanto no instrumental (como em “Lobotomia”).
Tudo isso com uma banda muito afiada e com muita presença de palco. Ainda teve a participação da baixista da Charlotte Matou um Cara, Camila Brandão, tocando guitarra em “TDA” (momento em que a vocalista e guitarrista Dani Buarque desceu do palco e foi cantar com a galera) e Jany voltando ao palco para cantar “Simplifica”. Só podemos concluir que “tem banda com mina”, sim, é não deixar o machismo te deixar surdo para o rock dos bons que elas fazem.
